Bancos negam a realidade
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Bancos negam a realidade

A saúde e condições de trabalho, com o foco no adoecimento da categoria, por conta da política de gestão por metas dos bancos, foi o tema da nova rodada da mesa de negociações entre o Comando Nacional dos Bancários e a Comissão de Negociações da Federação Nacional dos Bancos (CN Fenaban), no âmbito da campanha nacional da categoria para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT).

Os trabalhadores registraram a correlação entre a saúde e a pressão exercida sobre a categoria, para que cumpram os resultados das empresas. Apesar de representar 0,8% do emprego formal no Brasil, em 2022, a categoria bancária respondeu por 3,7% dos afastamentos acidentários e 1,5% dos afastamentos previdenciários naquele ano, considerando todas as categorias do país. 

"Os dados mostram que o afastamento bancário é três vezes maior que a média geral. Nossa Consulta Nacional, com cerca de 47 mil, mostra ainda que os bancários e bancárias estão fazendo relação direta entre metas exageradas e problemas de saúde. Estamos falando de preocupação com o trabalho, cansaço e fadiga constantes, dificuldade de dormir, medo de perder a cabeça. Queremos ações concretas dos bancos contra isso", pontuou a coordenadora do Comando Nacional, Juvandia Moreira, que também é presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT). 

Levantamento do Dieese, com base em dados do INSS e da RAIS, mostra ainda que a categoria bancária foi responsável por 25% de todos afastamentos acidentários, relacionados à saúde mental, em 2022. 

Antes de começar a mesa, a Contraf-CUT abriu uma caixa de perguntas, no Instagram, pedindo depoimentos de bancários e bancárias de como suas vidas são afetadas pela gestão dos bancos, baseada em metas exageradas. Em menos de 14 horas, quase 100 pessoas desabafaram. Algumas das respostas a seguir: 

"Afeta ao ponto de tomar medicação para ir trabalhar e para conseguir dormir"
"Estou afastado com síndrome de burnout. Não posso ouvir a voz do meu gerente"
"O meu trabalho é cronometrado. Além de ser cobrado por metas, sou por tempo. É angustiante!"
"Tô achando lindo este semestre, maioria das agências não está nem perto de entregar, tiro no pé".
"Ansiedade. Vc acha que está dando conta, atualiza o sistema e tem mais do que sua jornada comporta"
“Afeta minha casa, meu relacionamento e minha vida social”
“Celular, teams, reuniões online o tempo todo, telefone, clientes na agência... e muita cobrança” 
“Do jeito certo, ético e legal, ninguém bate todas as metas”
“Cobrança via whatsapp até no final de semana”
“Passei 30 dias afastado devido às cobranças exageradas no mercado saturado” 

Reivindicações 

As reivindicações dos trabalhadores sobre o tema se concentraram em quatro eixos, e que envolvem os artigos que vão de 75 até o 104 da minuta de reivindicações, que a categoria entregou aos bancos no começo da campanha nacional:

- Definição de metas e a política de gestão na aplicação das metas, para que não sejam conduzidas de forma abusiva e que a elaboração dos programas conte com a participação dos trabalhadores.

Neste ponto, Juvandia lembrou que, na campanha passada, em mesa sobre o tema, consultoria contratada pelos próprios bancos identificou problemas com o prazo de metas.

"Esse problema continua. Cobramos nesta mesa que os prazos sejam razoáveis e respeitados. Notificamos casos em que, apesar de serem estabelecidas metas, por exemplo, semestrais, as mesmas viram mensais ou até quinzenais, sobrecarregando os trabalhadores e essa sobrecarga tem relação direta com a saúde mental", pontuou. “O Santander é um exemplo disso, e quer que o trabalhador atinja a meta do mês até o 15º dia”, completou.

- Combate ao assédio moral. Os trabalhadores registraram que os acontecimentos desse tipo de violência estão atrelados ao primeiro ponto, por conta da pressão de gestores para que as equipes alcancem as metas. O comando registrou também a importância de os bancos cumprirem a cláusula 61, conquista dos trabalhadores na CCT e que prevê o combate ao assédio moral.

"Queremos a melhoria do texto da cláusula 61, para que que haja a participação dos sindicatos na apuração dos casos e a criação de canais específicos que recebam as denúncias de assédio, protegendo e acolhendo a vítima de maneira humanizada, com a apuração adequada de cada caso e com sigilo absoluto dos denunciantes", destacou o secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles. 

- Fluxo humanizado para o atendimento de trabalhadores e trabalhadoras que, em decorrência de doenças, precisam acionar o INSS para afastamento.

"A nossa reivindicação é que os trabalhadores não tenham perdas salariais, quando precisarem se afastar pelo INSS. Também que os bancos não dificultem os procedimentos técnicos necessários para esse afastamento e, por fim, que quando esses trabalhadores retornarem às atividades, não sejam discriminados e não sejam perseguidos. Pois é um momento de fragilidade e, não havendo acolhimento adequado, o adoecimento poderá ser aprofundado", resumiu Mauro Salles.
Contraf-CUT

 

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