Na última semana, bancários do Bank of America, segundo maior banco dos Estados Unidos, denunciaram jornada de trabalho em excesso. Alguns chegavam a trabalhar por mais de 100 horas semanais. A reportagem revelou as condições extremas no Bank of America, onde a pressão por lucros leva a jornadas extenuantes e gerou problemas graves de saúde entre os funcionários, incluindo mortes. Apesar de políticas para limitar horas de trabalho, essas regras são frequentemente ignoradas, resultando em uma cultura de trabalho insustentável e prejudicial.
No Brasil, o setor bancário enfrenta um grave desafio que vai além das questões operacionais: a deterioração da saúde mental de seus trabalhadores. Apesar de representarem menos de 1% da força de trabalho formal no país, os bancários correspondem a um alarmante 25% dos registros de adoecimento mental e comportamental junto ao INSS. Essa discrepância reflete uma crise oculta, alimentada pelas exigências severas e pela pressão constante no ambiente bancário.
O impacto das metas e da jornada de trabalho
Hermelino Neto, presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe (Feeb), aponta que um dos principais problemas enfrentados pelos trabalhadores bancários são as metas agressivas e jornada de trabalho. “O nosso grande problema são as metas. Em relação à jornada, existe um certo controle; há trabalhadores que fazem hora extra, gerentes que assumem determinados postos de trabalho, e às vezes não há horário fixo para chegar ou sair mais tarde, com horários flexíveis”, disse.
Esse estresse severo se traduz em graves problemas de saúde mental. Casos de suicídio e adoecimento elevado são conhecidos na categoria bancária. “Temos conhecimento de casos elevados de suicídio e adoecimento, principalmente por conta das metas, da pressão, do assédio moral e do assédio sexual na categoria. No entanto, não há denúncias sobre jornadas de trabalho excessivas, apenas sobre a pressão e outros fatores relacionados”, contou Hermelino.
Elementos do burnout e seus efeitos
O ambiente bancário é reconhecidamente estressante, e algumas literaturas identificam quatro elementos críticos que contribuem para a síndrome de burnout: excesso de trabalho, contato intenso com o público, mudanças constantes e cobrança excessiva. Estes fatores são comumente encontrados em agências bancárias e têm um impacto direto sobre a saúde mental dos trabalhadores.
42% dos bancários fazem uso de medicação psiquiátrica
A última campanha salarial revelou um dado preocupante: 42% dos bancários fazem uso de medicação psiquiátrica, uma estatística que sublinha a gravidade da situação. Este alto índice de uso de medicamentos para a saúde mental indica que muitos trabalhadores precisam estar medicados para lidar com as pressões diárias no ambiente bancário.
O setor bancário brasileiro precisa urgentemente repensar suas práticas e políticas. A saúde mental dos trabalhadores deve ser priorizada, e a cultura de pressão extrema por metas precisa ser revista. Sem uma mudança significativa, a crise de saúde mental entre os bancários só tende a se agravar, exigindo ações concretas para criar um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável.
Fonte: CTB.